novembro 21, 2012

7 motivos para acabar com o Brasileirão de pontos corridos


Por Vinicius Fonseca, do DiBico

Tenho quase certeza que sou um dos maiores críticos do Campeonato Brasileiro de pontos corridos. Por isso, decidi expor a minha opinião para vocês com base, principalmente, nos argumentos defendidos pelos Justiceiros do Novo Milênio (vocês entenderão esse nome mais à frente).
Aqui, irei expor minha opinião sobre um assunto bem polêmico. Se eu conseguir agradar a muitos, ótimo. Senão, discordem à vontade. Discussões educadas são sempre bem vindas. Fiz este post justamente para levantar uma discussão saudável.
Para formatar melhor os meus pontos de vista, separei todos os principais argumentos por tópicos.
1- Justiça
Para começar a combater o Campeonato Brasileiro de pontos corridos, vamos iniciar pelo principal argumento dos seus defensores: a justiça.
12 em cada 10 pessoas que defendem os pontos corridos (os Justiceiros do Novo Milênio) alegam que: “campeonato com pontos corridos é o mais justo pois premia realmente quem foi melhor durante a temporada e quem realmente merece”; “campeonato com playoffs pode favorecer um time que não merece tanto levantar o caneco, logo é injusto”.
Sabe o que eu acho disso? Muito mimimi. Este ano, o Giants foi campeão da NFL mesmo com uma campanha ruim na temporada regular (9 vitórias e 7 derrotas) e ninguém nos Estados Unidos questionou a (in)justiça disso. O time mereceu na reta final. O mesmo aconteceu com o Santos de Robinho e Diego, que ficou apenas em 8º na 1ª fase e foi campeão do Campeonato Brasileiro de 2002. Será que esses dois times não mereciam os títulos?
Além de um bom planejamento e formação de elenco, faz parte de qualquer esporte o poder decisivo na hora do “vamo vê”. Se um time tem mais “poder de chegada” do que o outro, isso não é injusto.
No Tênis – mesmo sendo um esporte individual, o exemplo é valido – todos os grandes torneios são mata-mata. Qual a injustiça de Roger Federer eDjokovic ganharem a grande maioria dos torneios? Eles são os melhores atletas e não pipocam nas finais. Se fossem bons, mas sem poder decisivo, não ganhariam, logo seriam menos merecedores de tantos títulos.
Agora, se os justiceiros do novo milênio estivessem no mundo do Tênis, todos os Grand Slams teriam que ser por pontos corridos. O que seria inviável nesse esporte.
Há alguns anos, uma onda de certinhos vem dominando as discussões de futebol com o único argumento “é mais justo”. Na boa, eu tenho vontade de falar “foda-se se é mais justo. Esse formato é o menos rentável e menos emocionante de todos. Finge que gosta dessa merda aí então, e tenta ser feliz”. Contudo, prefiro tentar convencer com argumentos e não com intransigências. Até porque não acho esse formato 100% justo.
Não consigo entender que tipo de justiça é essa que um time com o quíntuplo do orçamento disputa um campeonato sem nenhum método de equiparação de forças, que possibilite alguma chance ao time com menor poder financeiro.
Não acho que está errado um time receber mais dinheiro do que outro. Se eu fosse dono de uma empresa, pagaria muito mais pela camisa do Corinthians do que pela do Náutico, por ex. Nada mais natural, tendo em vista que o Corinthians aparece várias vezes mais na mídia do que o Náutico. E se eu fosse um dirigente da Globo também pagaria muito mais ao time do Parque São Jorge do que pelo dos Aflitos, pois a torcida – e consequentemente a audiência – do time paulista é muito maior do que a do time pernambucano. Essas são as leis do capitalismo.
Mas eu sou extremamente contra não se ter NENHUMA medida para tentar equilibrar as forças dos times, pois, com um orçamento 20 vezes menor, o Náutico teria que fazer um planejamento 20 vezes melhor do que o do Corinthians para tentar ser campeão.
E qual seria a maneira para tentar equilibrar as forças e dar ao Náutico pelo menos a oportunidade de superar o time paulista? Fazendo uma fase mata-mata. Isso sim seria justo. Pode ser que o Náutico não consiga vencer o Corinthians, mas dá essa possibilidade ao time pernambucano.
Por exemplo, em 2011 o Figueirense fez uma campanha muito boa de acordo com o que era possível dentro do orçamento do clube. O time catarinense realizou um bom planejamento, revelou bons jogadores, jogou bem e terminou em 7º. Será que não é “justo” um time que se preparou tão bem não conseguir nem disputar o título do Brasileirão? Será que a diretoria do Figueira não foi tão competente como a do Corinthians (campeão do ano passado)?
Cadê a justiça nisso?
Estão tentando transformar o Campeonato Brasileiro em um Campeonato Espanhol, mas esquecem-se que moramos em um país de dimensões continentais e 4 vezes mais populoso do que a Espanha. Lá, existem apenas 2 times grandes, e sem esse mimimi de que Atletico de Madrid, La Coruña e Valência são times grandes. Ok, eles podem até não ser tão inexpressivos como Osasuna, Granada e Zaragoza, mas, comparativamente com Real e Barça, são minúsculos. Aqui, no Brasil, temos pelo menos 12 grandes se considerarmos os 4 de São Paulo, 4 do Rio de Janeiro, 2 do Rio Grande do Sul e 2 de Minas Gerais e pelo menos mais 15 times tradicionais, como Bahia, Vitória, Sport, Náutico, Coritiba, Atlético Paranaense, Goiás, etc. Entre outros tantos com significativa representatividade e torcida, como: Remo, Paysandu, Santa Cruz, Ceará, Fortaleza, Villa Nova, Guarani, Ponte Preta, Guarani, etc.
Na minha opinião, INJUSTO é afastar TODAS as possibilidades da maioria dos times citados acima de serem campeões.
Como eu disse anteriormente, o Brasil copiou (erroneamente) o modelo europeu dos campeonatos nacionais. Na minha opinião, isso foi um erro pelos motivos que já apresentei. Deveríamos ter copiado algo semelhante ao praticado na NFL, NBA, NHL, MLB, etc.
Não estou dizendo que precisa seguir exatamente o modelo norte-americano, com conferências, divisões (que são grupos) por regiões, etc. Mas alguma coisa deveria ter sido inspirada nos campeonatos estadunidenses. Isso porque os EUA possuem mais características semelhantes ao Brasil do que a Espanha. Os Estados Unidos possuem um grande número de times tradicionais, como aqui no Brasil. Lá, o país também tem dimensões continentais. Então, por que copiar da Europa? Tínhamos que copiar dos Estados Unidos, que é um modelo muito mais lucrativo e com características semelhantes às brasileiras.
O modelo norte-americano prioriza tanto o equilíbrio das ligas que o time que termina em último em uma temporada, no ano seguinte tem preferência nas contratações dos jogadores calouros. Além disso, há um teto salarial para os times pagarem seus jogadores. Isso daria certo aqui? Obviamente que não. No primeiro exemplo porque os clubes brasileiros possuem categorias de base. No segundo, porque um teto salarial aos jogadores poderia gerar uma debandada dos grandes craques, apesar de conter a euforia amadora das diretorias e a supervalorização dos salários de jogadores. Mas fica claro a vontade dos norte-americanos de fazerem ligar competitivas e equilibradas, ao contrário do Campeonato Brasileiro, que cada vez mais reduz a possibilidade de equilíbrio entre os clubes.
Quando falo essa justificativa para alguns amigos, alguns temem pelo que seus times deixem de ser grandes. Mas se isso não ocorre nem nos EUA, com todos esses artifícios citados, jamais aconteceria aqui. Lá também existem os grandes times, que mesmo com todas as tentativas de equilibrar as forças, continuam existindo e sendo superiores.  OBoston Celtics possui 17 títulos da NBA; o Pittsburgh Steelers 6 da NFL; o Montreal Canediens tem 24 títulos da NHL e os Yankeespossuem 27 títulos da MLB. Obviamente, esses continuarão sendo grandes e sempre com possibilidades reais de títulos.
Mesmo assim, o modelo norte-americano permite que times que nunca foram campeões sejam. Na NFL, o New Orleans Saints foi campeão pela primeira vez em 2010. Na NBA, O Dallas Mavericks foi campeão na temporada 2010-11. Este ano, na NHL, o campeão inédito foi o Los Angeles Kings.
Cá entre nós, qual a chance de um time que nunca foi campeão brasileiro ser pela primeira vez nos próximos anos? Sei lá, o Figueirense ou o Náutico (para manter os exemplos) conseguirem o título inédito. NENHUMA. Não há essa possibilidade. Sendo bem realista, se o Figueirense voltar à Série A, fizer um excelente planejamento, contratar boas peças, poderá terminar em 5º, talvez. Enquanto um time qualquer, que fizer um bom planejamento, mas nada tão excepcional, com o quádruplo do orçamento, será o campeão.
Isso, na minha cabeça, que é injustiça.
A diferença financeira entre os clubes é exorbitante e não permite que um time seja campeão de maneira inédita.
Sejamos francos, o Campeonato Brasileiro só não se tornou (ainda) um campeonato polarizado entre os clubes mais ricos, como na Espanha, pela incompetência de algumas diretorias. Por sorte, o amadorismo de alguns clubes não permite isso.
2 – Brasil é festa:
Mudando de assunto e esquecendo um pouco dos Justiceiros do Novo Milênio, vamos aos fatos: Brasil é um país festeiro. Característica do nosso país e do nosso povo de sangue latino, que tem consequências positivas e negativas, mas que, mal ou bem, são características do nosso povo.
Goste você ou não, não há como lutar contra nosso DNA.
Evitar os playoffs da últimas rodadas é tirar a festa de vários estádios lotados e a alegria do povo; é dar um golpe na cultura nacional.
Imagina uma fase mata-mata entre Grêmio, São Paulo, Fluminense e Atlético. Além de integrar 4 estados nacionais, imagina Olímpico, Morumbi, Engenhão e Independência lotados. Cara, as festas das torcidas seriam lindas. Me arrepio só de pensar. ISSO SIM É BRASIL. Estádios lotados, festa, emoção, tensão e vibração. Brasil não é um time sendo campeão com 3 rodadas de antecedência.
3 – Público:
Algumas pessoas gostam de falar “o brasileiro já aprendeu a gostar do Campeonato Brasileiro de pontos corridos”. Aí eu pergunto: você se baseia essa sua opinião em que? Porque não é o que os números dizem. Nossos estádios estão cada vez mais vazios e audiência na televisão cada vez menor.
Sim, mesmo com a Globo pagando verdadeiras fortunas aos clubes, a audiência está menor bem menor do que era. O preço pago pela emissora reflete o bom momento econômico brasileiro e não o aumento da atração do público pelo campeonato.
Leia o texto de Cosme Rímoli e entenda o que estou dizendo sobre audiência.
Sobre a média de públicos no estádio, o Brasil é apenas o 13º país que leva mais torcedores aos estádios de futebol. Para um país em um excelente momento econômico e que se diz ser o “país do futebol” estar atrás de México, China e EUA soa bastante estranho.
Sim, os chineses levam mais torcedores aos estádios do que nós. E sim, aliga de Soccer dos Estados Unidos já tem uma média de torcedores melhor do que a do Brasileirão.
Eu não vou nem falar que a nossa média de torcedores nos estádios é pífia, pois isso já foi assunto de um outro post. Mas, quando comparamos à média do futebol europeu e de ligas como a NFL, MLB e NBA, dá até vergonha. A média de públicos na liga de Futebol Americano é de quase 67 mil pessoas, mais do que o recorde do São Paulo, que levou o maior número de pessoas no Campeonato Brasileiro.
4 – Arbitragem:
Não vou entrar naquele chororô de que há uma manipulação dos árbitros em prol dos times de São Paulo e Rio de Janeiro. Contudo, é sabido que os times fora do “Eixo” sofrem mais dificuldade com relação a arbitragem.
Não vou discutir a idoneidade dos árbitros (porque isso não vem ao caso agora), mas é até uma coisa natural. No Campeonato Mineiro e no Campeonato Gaúcho, os árbitros, quando têm dúvidas, favorecem os times da capital, pois esses são mais fortes politicamente. Isso também acontece no Campeonato Brasileiro. É óbvio. Negar isso é burrice. Rio de Janeiro e São Paulo são mais fortes politicamente e um erro contra os times desses estados geraria algo mais grave do que o contrário. Ou seja, por questões morais ou não, os árbitros tendem a favorecer times de Rio e SP.
Algumas pessoas me disseram que quando era campeonato de mata-mata os árbitros roubavam muito mais. Mentira. Isso acontecia na década de 70 e 80 porque a discrepância de representatividade política era muito maior. Agora, com o uso da tecnologia e da Comunicação, fica-se evidente erros em finais, semis e quartas. Se um cara rouba descaradamente em um mata-mata, ele pelo menos fica marcado por conta daquele erro. No campeonato de pontos corridos não – salve erros exorbitantes, como do Márcio Rezende de Freitas em 2005 e Sandro Meira Ricci em 2010 – pois os erros são diluídos durante todo o campeonato. Então, um equívoco na 7ª rodada é facilmente esquecido no final, mesmo tendo a mesma importância da última rodada.
Fiz um levantamento e constatei que NUNCA, repito NUNCA, desde o 1º Campeonato Brasileiro (considerando o início em 1971), tivemos um período com tanta ausência de clubes fora de Rio de Janeiro e São Paulo sendo campeões. Veja:
O maior período de ausência de campeões sem serem cariocas e paulista havia sido em 1989 e 1995. Ou seja, 7 anos. 2 a menos do que estamos vendo agora, no período entre 2004 e 2012.
Então, você pode até ser a favor do campeonato de pontos corridos, mas se você não mora no Rio de Janeiro e São Paulo e ainda quer ver seu time sendo campeão brasileiro, um interesse está divergindo do outro.
5 – “Já existe a Copa do Brasil, não precisa mais um campeonato com mata-mata”
A Copa do Brasil é sim um campeonato mata-mata. Mas uma coisa não exclui a outra.
Em um Campeonato Brasileiro com playoff ele conseguiria ser altamente rentável para todos os clubes. A Copa do Brasil tem uma função política (integrar os clubes e os estados brasileiros) e social (dar chance a times minúsculos e jogadores desconhecidos de aparecerem para o mundo) importantes. Mas não capacidade para se tornar uma grande liga e se tornar financeiramente rentável para a maioria dos clubes, pois se perde um confronto já está fora. Somente os primeiros colocados que lucram.
6 – Financeiro
O Campeonato Brasileiro já se tornou um dos mais rentáveis do mundo. Somente a Globo teve que desembolsar R$ 1,044 bilhão para poder ter o direito de transmiti-lo. Apenas o Flamengo, ano passado, recebeu 94 milhões de reais dessa quantia.
É muito dinheiro? Com certeza. Mas não se engane, se o Campeonato Brasileiro se tornar uma grande liga tem capacidade para muito mais. Com mata-mata, os jogos da primeira, e até da segunda fase (caso haja), ganham mais importância, gerando mais interesse do público nos estádios e na televisão. Quando chegar na fase de playoffs, então, o país para ver. Nos Estados Unidos, os intervalos do Superbowl (final do campeonato de futebol americano) possuem os segundos mais caros DO MUNDO. Ganha de Copa do Mundo, Olimpíadas e qualquer evento grandioso.
Será que uma final entre grandes clubes do país não iria acontecer algo semelhante? Todos lucrariam: emissora, CBF e os clubes.
7 – Emoção
Fala a verdade aí: você, amante do futebol, mesmo que defenda os pontos corridos, achou alguma graça desse final de Campeonato Brasileiro? Faltando 3 rodadas para o fim do campeonato, praticamente tudo já estava definido. Campeão, classificados para a Libertadores e rebaixados. Isso falando de matematicamente definidos, pois há mais rodadas já era evidente que o Fluminense seria o campeão, os classificados para a Libertadores e a grande parte dos times que iriam para a Série B.
Aí você me diz: “Esse ano foi exceção”. Ok, pode ter sido. Mas temo que o que aconteceu em 2012 se repita nos próximos anos, deixando, assim, de ser exceção. Com o tempo, os treinadores, jogadores e os grandes times irão aprender a disputar esse campeonato de pontos corridos, como o Fluminense aprendeu, e aí o que aconteceu em 2009 que será considerado raro.
Conclusão
Obviamente, não sou o dono da verdade. Tenho uma opinião e acredito nela. Tentei defender uma questão complicada e polêmica.
Durante muito tempo os brasileiros acreditaram que seguir o modelo europeu seria uma evolução natural da organização do nosso futebol. Não acredito nisso. Temos capacidade para mais.
Aqui, tentei sempre mostrar uma realidade diferente que as pessoas não costumam comparar: os modelos das grandes ligas dos Estados Unidos.
Os times norte-americanos conseguem se sustentar durante o ano inteiro, disputando apenas essas ligas e em um intervalo de aproximadamente 5 meses de competições. Aqui, no Brasil, isso não é possível. Os clubes precisam disputar estaduais, Copa do Brasil ou Libertadores, Sulamericana e Campeonato Brasileiro para sobreviverem. Tudo bem, isso nunca vai acabar. Não quero ser tão radical por enquanto. Mas imagina se conseguíssemos criar uma liga tão forte, capaz de sustentar os nossos clubes. O que viesse além disso seria lucro. Poderíamos trazer os principais craques do mundo. Não estou dizendo que só pelo fato de criar um campeonato mata-mata poderíamos trazer Lionel Messi e Cristiano Ronaldo. Estou dizendo que o mercado brasileiro é capaz de muito mais do que feito em países como a Espanha. Cabe aos clubes se profissionalizarem, internacionalizarem-se e à CBF se organizar. O momento está propício ao nosso país e é hora de pensar grande.
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